Em meio a abertura dos trabalhos da COP30, nesta segunda-feira (10), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) falou sobre o tornado que deixou seis mortos em uma cidade no interior do Paraná na última sexta-feira (7). “A mudança do clima já não é uma ameaça do futuro, é uma tragédia do presente”, disse o presidente.
À CNN Brasil, o secretário-executivo do Observatório do Clima, Márcio Astrini, afirmou que o fenômeno climático deveria servir como alerta de “desespero e urgência” para as autoridades reunidas na conferência.
“O que aconteceu no Paraná, que é triste e grave, é mais uma repetição do que vem acontecendo não apenas no Brasil, na Amazônia, no Rio Grande do Sul, em São Sebastião, em Petrópolis, no norte de Minas, sul da Bahia, como no mundo inteiro também”, destacou.
Nesse mesmo sentido, em entrevista ao CNN Novo Dia, o meteorologista Carlos Nobre alertou que eventos climáticos extremos como o do Paraná tendem a se tornar mais frequentes e intensos caso não sejam tomadas medidas efetivas contra o aquecimento global.
Aumento dos gases de efeito estufa
Segundo Nobre, o aumento dos gases de efeito estufa na atmosfera resulta em maior quantidade de energia disponível, principalmente devido à elevada evaporação de vapor d’água dos oceanos.
Assim, o processo intensifica a formação de nuvens e a liberação de energia, potencializando fenômenos meteorológicos em todo o planeta. Dados recentes mostram que a temperatura global já atingiu 1,5°C acima dos níveis pré-industriais por 21 meses consecutivos, indicando a urgência de ações mais ambiciosas.
“Isso significa que a gente não pode esperar até 2050 para zerar as emissões”, explica Nobre. “Se nós esperarmos, vai passar de 2°C, e isso é uma tragédia ecológica, se chama ecocídio, um suicídio e homicídio ecológico para o planeta. Os países todos têm que acelerar muito a redução das emissões”.
A oceanógrafa Renata Nagai, pesquisadora da Universidade de São Paulo, explica que tornados, como o que atingiu Rio Bonito do Iguaçu (PR), não acontecem apenas por causa das mudanças climáticas, mas que o desequilíbrio do clima pode contribuir para que eles sejam mais frequentes e intensos.
“As mudanças climáticas estão associadas a um aporte de combustíveis fósseis e de gases de efeito estufa na atmosfera e isso aumenta a energia, causando o aquecimento da atmosfera e também dos oceanos. Mais calor e mais umidade servem quase como um combustível para esses eventos meteorológicos extremos”, afirmou a oceanógrafa.
Michel Mahiques, professor e pesquisador da USP (Universidade de São Paulo), vai de encontro com o que Nagai expõe e explica que esse tipo de fenômeno pode se tornar mais comum.
“Tornados, como o que aconteceu no Paraná, ocorrem por conta de grandes diferenças de pressão, causadas por massas de ar com propriedades muito diferentes, como a temperatura. Agora, com as mudanças climáticas essas diferenças se intensificam“, disse Mahiques.
Tornado
Um tornado que atingiu a cidade de Rio Bonito do Iguaçu, no Centro-Sul do Paraná deixou um rastro de destruição.
O fenômeno meteorológico extremo foi resultado da formação de um ciclone, um sistema de baixa pressão que se desenvolveu sobre o continente, entre o Paraguai, o norte da Argentina e a porção oeste da região Sul.
Mortes e desabrigados: entenda tornado que deixou cenário de guerra no PR
O Simepar (Sistema de Tecnologia e Monitoramento Ambiental do Paraná) classificou o tornado no nível F3, o que implica ventos que podem chegar a 250 km/h. O governador Ratinho Júnior (PSD) classificou a catástrofe como “sem precedentes” na história do estado, uma “situação de guerra”.
- Vítimas: Seis pessoas morreram (cinco em Rio Bonito do Iguaçu e uma em Guarapuava), e 750 pessoas ficaram feridas, totalizando 784 atendimentos na rede hospitalar.
- Destruição: Cerca de 90% dos edifícios em Rio Bonito do Iguaçu foram danificados ou atingidos, com relatos de postes e fios caídos e estruturas metálicas retorcidas. Houve pelo menos 1.000 pessoas desalojadas e cerca de 28 desabrigadas.
Em resposta, o governo do Paraná decretou estado de calamidade pública no município e luto oficial de três dias em todo o estado. Uma força-tarefa integrada com mais de 50 bombeiros, Defesa Civil, Copel e Sanepar foi mobilizada. O governo federal enviou ajuda humanitária, medicamentos e materiais.
Fonte: https://www.cnnbrasil.com.br















