Tarifas, terras raras e dúvidas quanto ao desempenho econômico são temas que permeiam o Partido Comunista da China em uma semana decisiva para os próximos anos do gigante asiático. Entre segunda e quinta-feira, o Partido se reúne a portas fechadas para discutir o plano de desenvolvimento chinês para o próximo quinquênio.
Analistas veem que a guerra comercial com os Estados Unidos de Donald Trump deve permanecer como o principal foco dos formadores de políticas da China.
A expectativa é de que as autoridades mantenham o empenho na atualização da indústria do país, com atenção para a área de inovação e avanços tecnológicos.
Essa estratégia pode colocar a China na rota de se consolidar na fabricação de veículos elétricos e energia verde, além de abrir caminho para avançar em segmentos que ainda há defasagem, como é o caso dos semicondutores e aeronaves.
O sigilo por parte dos participantes é extremo. Todos permanecem confinados no local da reunião durante os dias de plenário. Apenas na data de encerramento, a China divulga um breve relatório com a descrição daquilo que foi acordado.
O que é o plano?
O plano estratégico abrange várias áreas da economia chinesa, com descrição de metas de desenvolvimento. Entre as áreas, estão: modernização industrial, inovação tecnológica, proteção ambiental, segurança nacional e objetivos sociais.
O plano 2026 – 2030 será o 15º desde que o país adotou ciclos de formulação de políticas quinquenais, próximo ao modelo utilizado pelos soviéticos na década de 1950.
Neste histórico, os planos adotados pelos chineses nos anos 80 foram de extrema importância para o robusto desenvolvimento subsequente do país. A partir deles, a propriedade privada foi permitida, assim como a abertura de mercado, o que possibilitou a integração chinesa ao comércio global.
Já entre as décadas de 2000 a 2010, o Partido voltou seus objetivos para o alívio da pobreza. Após esse período, o país declarou sucesso no combate à pobreza.
O documento que será produzido neste mês deve passar em março do próximo ano para ser de fato colocado em prática.
O retrato da economia
A economia chinesa e a qualidade de seu crescimento também têm sido motivo de dúvidas entre analistas. Os dados mais recentes de atividade indicam uma desaceleração. Se soma a isso o fato de que o país prioriza um domínio industrial, deixando de lado medidas para o consumo e gerando um desequilíbrio.
A produção industrial e as vendas no varejo da China registraram em agosto o crescimento mais fraco desde o ano passado, mantendo a pressão sobre Pequim para promover mais estímulos de forma a evitar uma forte desaceleração na segunda maior economia do mundo.
A produção industrial cresceu 5,2% em agosto sobre o ano anterior, segundo dados do Escritório Nacional de Estatísticas, a menor leitura desde agosto de 2024 e mais fraca do que o aumento de 5,7% em julho.
Já as vendas no varejo, um indicador do consumo, cresceram 3,4% em agosto, o desempenho mais fraco desde novembro de 2024, e arrefeceram em relação ao aumento de 3,7% no mês anterior. Elas não atingiram a previsão de ganho de 3,9%.
Atritos com a Casa Branca
A trégua entre Estados Unidos e China no embate comercial demonstrava, desde seu início, certa fragilidade. O estopim agora veio após a China decidir restringir as terras raras.
O interesse americano pelas terras raras – minerais utilizados amplamente na fabricação de produtos tecnológicos e de alta precisão – é alto. O país utiliza, por exemplo, na produção de caças F-35.
A China detém quase o monopólio da extração desses minérios e seu refino. Na semana passada, o Ministério do Comércio do país publicou um decreto que traz a necessidade de autorização do governo chinês para as empresas estrangeiras que pretendem exportar produtos que contenham terras raras. As companhias terão ainda de declarar o uso pretendido com os
A escalada jogou um balde de água fria no possível encontro entre Xi e Trump, na Coreia do Sul. No entanto, sinalizações recentes indicam que a reunião deve ocorrer.
Outro ponto que também já incomodava a Casa Branca foi o fato de a China ter paralisado a compra de soja americana. Com o prejuízo aos agricultores, que compõem a base trumpista.
A China, que anteriormente importava cerca de 50% de toda a produção de soja dos Estados Unidos, implementou uma tarifa de 20% sobre o produto americano. Em 2024, as exportações de soja dos EUA para a China haviam alcançado mais de US$ 12 bilhões.
Em meio a isso, o presidente dos EUA decidiu reagir e anunciou tarifas adicionais de 100% ao país asiático a partir de 1 de novembro, que se juntariam aos 30% já em vigor.
O impasse gerou forte prejuízo nas bolsas globais, principalmente na Ásia. A esperança veio com as últimas declarações do Secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, que confirmou que vai se reunir pessoalmente com autoridades chinesas – incluindo o vice-primeiro-ministro He Lifeng – para discutir as tarifas.
O próprio Trump afirmou, na sexta-feira (17), que as taxas não seriam sustentáveis. O republicano disse ainda que a situação ficará bem entre as duas potências.
Fonte: https://www.cnnbrasil.com.br