Quando o presidente dos EUA, Donald Trump, desligou o telefone após sua conversa com o líder russo Vladimir Putin, na semana passada, ele estava tão convencido do progresso do diálogo que anunciou que viajaria para Budapeste para uma cúpula presencial.
Cinco dias depois, a cúpula foi cancelada e novas sanções contra Moscou — as primeiras do segundo mandato de Trump — foram aplicadas.
O que aconteceu nesse meio tempo foi uma percepção constante, por parte de Trump e de altos funcionários, de que a posição de Putin sobre o fim da guerra não havia mudado significativamente desde a última vez em que os dois se encontraram, de acordo com autoridades americanas.
Os ataques contínuos de Moscou contra civis na Ucrânia, suas exigências maximalistas à Kiev para pôr fim à guerra, além de sua recusa em concordar com um cessar-fogo imediato, tudo isso somado, na mente de Trump, era um sinal claro de que nada realmente havia mudado.
“Simplesmente não parecia certo para mim”, disse o presidente americano na quarta-feira (22). “Não parecia que chegaríamos onde precisávamos. Então, cancelei (a cúpula em Budapeste)”.
A reversão total foi aplaudida pelos aliados europeus de Trump e por muitos apoiadores do presidente, e condenada como inútil por Putin.
Após meses ameaçando novas medidas contra a Rússia, o líder americano foi mais longe do que nunca na punição do país por sua guerra na Ucrânia.
“Eu simplesmente senti que era a hora”, disse Trump na Casa Branca, momentos após o anúncio das novas sanções. “Esperamos muito tempo.”
“Boas conversas que não chegam a lugar nenhum”
Se a nova postura de Trump será permanente ou apenas uma fase temporária, é uma questão em aberto.
Ele tem oscilado repetidamente em sua abordagem a Putin desde que retornou ao cargo, muitas vezes influenciado por suas conversas telefônicas com o líder russo.
E a nova pressão sobre os preços globais do petróleo pode testar sua disposição de suportar as potenciais consequências para os consumidores americanos.
Não houve um único momento que tenha mudado o pensamento do presidente americano, de acordo com um alto funcionário da Casa Branca.
Em vez disso, sua visão evoluiu, à medida que se sentia repetidamente decepcionado por Putin não parecer estar mais perto de concordar em encerrar a guerra.
“Toda vez que falo com Vladimir, tenho boas conversas, mas elas não levam a lugar nenhum”, reclamou Trump na quarta-feira (22) “Simplesmente não levam a lugar nenhum.”
Um dia após sua ligação com Putin, Trump conversou com o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky durante um almoço na Sala do Gabinete, na Casa Branca.
A reunião foi tensa, e os ucranianos partiram sem conseguir garantir os mísseis Tomahawk de longo alcance que buscavam.
Mas, embora Trump tenha pressionado Zelensky a concordar com concessões de terras que encerrariam a guerra, ao final da reunião ele havia chegado a um plano que exigiria um cessar-fogo nas atuais linhas de frente— bem inferior ao que Putin exigiu para a paz.
Após um telefonema na segunda-feira (20) entre o Secretário de Estado Marco Rubio e o Ministro das Relações Exteriores russo Sergey Lavrov, ficou claro para as autoridades americanas que a posição de Moscou não havia mudado significativamente.
Isso apesar do que Trump acreditava ser uma conversa positiva com Putin quatro dias antes.
A cúpula de Budapeste que ele esperava organizar em algumas semanas poderia ser uma “perda de tempo”, especulou Trump.
Sanções a petrolíferas russas
Antes do anúncio das novas sanções, Trump se reuniu com o secretário do Tesouro, Scott Bessent, que há meses defende a imposição de sanções à Rússia, e o assunto foi abordado.
Desta vez, o presidente americano surpreendeu até mesmo alguns de seus assessores mais próximos ao concordar em impor sanções às maiores petrolíferas russas, Rosneft e Lukoil. Bessent retornou ao seu escritório no Tesouro para informar sua equipe e compilar as novas sanções em um comunicado.
Pouco depois, Trump conversou com Rubio — que se preparava para viajar a Israel — e o informou que as sanções seriam impostas imediatamente.
De volta à Casa Branca, o secretário do Tesouro provocou o anúncio iminente de forma indireta.
Depois de falar com repórteres na entrada da garagem, ele estava voltando para a Ala Oeste antes de se virar e retornar aos microfones.
“Vamos anunciar após o fechamento desta tarde — ou amanhã cedo — um aumento substancial nas sanções à Rússia”, disse ele enquanto os repórteres se apressavam para recolocar suas câmeras no lugar.
Dentro do prédio, Trump estava se reunindo no Salão Oval com o Secretário-Geral da Otan, Mark Rutte, que fez a viagem de última hora de Bruxelas como emissário dos líderes europeus, esperando que Trump permanecesse ao lado da Ucrânia.

Rutte dificilmente poderia ter esperado um resultado melhor, já que Trump anunciou sua repentina decisão de cumprir uma ameaça à qual vinha aludindo há meses.
“Essas ameaças são muito grandes, são contra suas duas grandes petrolíferas, e esperamos que não durem muito. Esperamos que a guerra seja resolvida”, disse Trump.
Surpresa na Casa Branca
Até mesmo muitos na Casa Branca ficaram surpresos com a rapidez com que o novo pacote de sanções foi elaborado.
Trump vinha dizendo a assessores há meses que um dia decidiria que era hora de tomar medidas mais enérgicas contra a Rússia.
O presidente americano sugeriu aos assessores que seus “instintos” lhe diziam que era hora de mudar de direção com Putin.
“Foi o ápice de boas conversas (com Putin) e depois de ler os jornais e ver que a Rússia ainda está” bombardeando extensivamente a Ucrânia, disse o alto funcionário da Casa Branca.
Horas antes do anúncio, a Rússia atacou um jardim de infância ucraniano em Kharkiv. Um vídeo do local mostrou pessoas aterrorizadas correndo do prédio em chamas, agarradas a crianças que gritavam.
Trump também foi motivado pela trégua que ajudou a negociar em Gaza, acreditando que ela só foi concretizada depois que ele se tornou cada vez mais duro com o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu.
“A rigidez levou à ação”, completou a autoridade.
Trump recebeu repetidos telefonemas do senador Lindsey Graham, juntamente com outros aliados republicanos, incentivando-o a impor sanções.
Após almoçar com o l[der dos EUA no Rose Garden na terça-feira (21), o líder da maioria no Senado, John Thune, disse a repórteres que queria levar à mesa de negociações um projeto de lei de sanções, há muito adiado.
“Quando a Casa Branca acreditar que é útil para eles levar Putin à mesa de negociações e chegar a um acordo que ponha fim à guerra, então estamos preparados para agir”, afirmou Thune.
“Queremos fazer tudo o que pudermos para apoiar o presidente, os esforços de sua equipe e os esforços de nossos aliados para pôr fim ao derramamento de sangue e levá-lo a uma conclusão pacífica”, acrescentou o líder.

Desde os dias após seu retorno a presidência em janeiro, Trump tem oferecido a opção de usar sanções para forçar Putin à sentar na mesa de negociações.
Ele disse em janeiro, dois dias após sua posse e um dia após seu prazo final para encerrar a guerra, que talvez não tivesse escolha a não ser “impor altos níveis de impostos, tarifas e sanções” a Moscou.
As ameaças continuaram durante a primavera e o verão, mas nunca se materializaram em novas medidas.
Trump disse reservadamente que estava preocupado com a possibilidade de novas sanções severas afastarem Putin ainda mais das negociações de paz, segundo autoridades – um ponto de vista que seu principal diplomata repetiu em agosto.
“No minuto em que novas sanções forem impostas… nossa capacidade de levá-las à mesa será severamente reduzida”, disse Rubio em uma entrevista na época em que Trump se encontrou com Putin no Alasca.
O líder dos EUA aplicou novas tarifas à Índia como punição por suas compras de petróleo russo. Mas ele não impôs medidas semelhantes ao maior cliente de Moscou, a China, enquanto trabalha para intermediar um novo acordo comercial com o presidente Xi Jinping.
Trump não descartou encontrar-se com Putin em algum momento no futuro, quando achar que é o momento certo.
“Acho que o presidente e todo o governo esperam que um dia isso possa acontecer novamente”, disse a secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, na quinta-feira (23).
“Mas queremos garantir que haja um resultado tangível e positivo dessa reunião e que seja um bom uso do tempo do presidente”, acrescentou Leavitt.
Fonte: https://www.cnnbrasil.com.br


















