Mudança climática deixa perda anual de R$ 30 bi no campo e desafia seguros

Proprietário no município de Itaí, no sudoeste do estado de São Paulo, Luiz Fernando vivencia os prejuízos das mudanças climáticas e da intensificação dos fenômenos extremos: no ano passado, o granizo levou dano a sua plantação de soja, e neste ano, a geada devastou a cultura de trigo.

Em ambas as oportunidades, o alívio para o engenheiro agrônomo — e para os dez funcionários que trabalham em sua lavoura — chegou a partir do seguro rural, mecanismo que indeniza produtores por perdas em incidentes, incluindo eventos climáticos.

“Nosso grupo trabalha com o seguro rural há alguns anos e no ano passado tivemos granizo na cultura de soja. O dano foi acima de 45% e todos os trâmites foram feitos, e o seguro nos contemplou o prejuízo”, diz.

“Neste ano tivemos o advento da geada no trigo, e o dano foi de 65%. A equipe técnica veio fazer uma avaliação na nossa lavoura e tivemos possibilidade de nossa atividade continuar prosperando”.

Acontece, no entanto, que a intensificação dos eventos extremos no planeta, puxada pelas mudanças climáticas, coloca em risco o equilíbrio do negócio do seguro rural.

A lógica do mecanismo é a seguinte: produtores contratam a proteção e ganham previsibilidade para tocar sua produção e fazer dinheiro; enquanto isso, as seguradoras lucram já que o valor pago pelo cliente na contratação normalmente é superior ao das indenizações.

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Tudo muda com as mudanças climáticas e os desastres mais frequentes: as indenizações crescem, e as seguradoras precisam cobrar um prêmio maior dos produtores.

Para se ter uma ideia, o número de secas, enchentes e outros eventos climáticos extremos no Brasil saiu de 639 em 2003 para 6.772 em 2023 — um salto de 960% — segundo um levantamento da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz).

A CNseg (Confederação Nacional das Seguradoras), principal entidade que representa o segmento no país, calcula que entre 2022 e 2024 os prejuízos causados por eventos climáticos no Brasil somaram R$ 180 bilhões, sendo que metade do valor ficou concentrado no agronegócio.

Isso significa que os produtores rurais acumularam perdas de R$ 30 bilhões por ano. A explicação para esta concentração está na característica do incidente no campo, segundo Glauco Toyama, presidente da Comissão de Seguros Rurais da FenSeg (Federação Nacional de Seguros Gerais).

“O que é importante nessa história toda quando falamos de seguro rural, especialmente agrícola, ele por si só traz um ambiente difícil, porque ele não atinge uma única propriedade. No caso do automóvel, quando temos o sinistro, acontece com um, dois, três carros. No caso do seguro rural, atinge uma série de propriedades”, afirma.

As soluções e a COP30

Apesar de o agro concentrar boa parte dos prejuízos com os desastres, menos de 5% da área plantada no Brasil hoje conta com seguro rural — cerca de 4 milhões de hectares dos 97 milhões de hectares do país estão cobertos.

Essa cobertura chegou a ser de 16% em 2020 e vem caindo. Nos Estados Unidos, outro gigante global do agronegócio, por exemplo, a proteção fica na casa dos 60%.

Segundo membros do setor, entre as possíveis soluções para este novo dilema estão: incrementar tecnologias de previsão climática a fim de tornar o seguro mais assertivo; fortalecer o papel das resseguradoras (as empresas que seguram as seguradoras); e ampliar o número de produtores que aderem a este instrumento.

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“O setor segurador faz estudos sobre estes eventos. Como vamos segurar estes eventos? Do outro lado, quanto maior for a abrangência, mais barato fica na média. Se concentra muito, no risco muito alto, o custo do seguro será maior. Nisso, a participação do governo é fundamental, criando soluções que envolvem o setor público e privado”, disse Dyogo Oliveira, presidente da CNseg.

Um dos principais pleitos das seguradoras ao setor público é livrar os recursos de subvenção rural — dinheiro pago pelo governo que ajuda a viabilizar o seguro — de contingenciamentos de gastos públicos.

Em 2025, do total de R$ 1 bilhão do Orçamento brasileiro destinado ao programa, metade foi congelado. Assim, a cifra ficou ainda mais distante da demanda do agronegócio, que é de R$ 4 bilhões.

Para levar à frente um debate complexo e de diferentes frentes, as seguradoras ganharam em 2025 uma “arena”. O Brasil recebe a COP30, conferência climática das Nações Unidas, neste mês. E em Belém, os dilemas do segmento viram tema de discussão entre empresários e autoridades de todo o mundo.

“A COP30 traz mais equilíbrio à discussão climática, que sempre foi muito concentrada em mitigação, e não houve tanta atenção à adaptação. Aí entra a questão dos seguros e do gap de proteção. A gente precisa expandir a proteção especialmente nos países em desenvolvimento”, completou Dyogo Oliveira.

Fonte: https://www.cnnbrasil.com.br

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