A EssilorLuxottica está apostando alto em óculos inteligentes e a aposta está prestes a ser testada. Seus óculos Ray-Ban Meta, equipados com recursos de inteligência artificial, tiveram o primeiro aumento significativo de receita este ano, mas analistas alertam que preocupações com privacidade e uma onda de novos rivais podem limitar seu crescimento.
O óculos, lançado em 2021, promete mudar a era dos smartphones, permitindo que os usuários tirem fotos e façam vídeos por meio de câmera instalada na armação. O dispositivo é capaz de transmitir conteúdo para aplicativos da Meta e permite ao usuário ter um assistente de IA.
No entanto, os recursos nascidos da colaboração entre a Meta e a gigante franco-italiana de óculos EssilorLuxottica estão gerando preocupações, pois as pessoas têm pouco controle sobre a gravação ou sobre como seus dados são tratados.
“Os óculos inteligentes com IA suscitam preocupações significativas com relação à privacidade”, disse Kleanthi Sardeli, advogada do grupo europeu de defesa dos direitos digitais NOYB.
“As principais questões estão ligadas ao uso de dados pessoais das pessoas para treinar modelos de IA e transparência para quem está ao redor do usuário.”
A Meta, que é proprietária do Facebook, Instagram e WhatsApp e gera a maior parte de sua receita com publicidade, está aproveitando os dados dos usuários para alimentar ferramentas de inteligência artificial.
Fiscalização na Europa
Os órgãos reguladores europeus têm sinalizado riscos desde 2021, quando a Itália e a Irlanda pediram à Meta que esclarecesse como ela cumpria leis de privacidade locais.
A Comissão de Proteção de Dados da Irlanda questionou se um minúsculo indicador LED é suficiente para alertar as pessoas de que podem estar sendo filmadas pelos usuários dos óculos, o que levou a Meta e a EssilorLuxottica a ampliar a luz e adicionar um padrão que faz a luz piscar.
As preocupações com a privacidade são particularmente fortes na União Europeia, onde regulamentações mais rígidas retardaram a adoção de alguns recursos de IA.
Os dispositivos habilitados para IA são regulamentados pela Lei de IA da UE e pelo Regulamento Geral de Proteção de Dados, ou GDPR.
“Qualquer registro de indivíduos deve ser claramente comunicado e deve ter uma base legal para registrar indivíduos”, a menos que os dados tenham sido processados por motivos puramente pessoais ou domésticos, disse um porta-voz da Comissão Europeia.
Mas a aplicação desses direitos é difícil quando o proprietário do dispositivo é desconhecido, diz a NOYB.
Uma pesquisa realizada pela Monash University em 2024 com mais de 1.000 australianos revelou que os usuários veem os óculos inteligentes como um estímulo à sua autoimagem e aos seus laços sociais, enquanto os não usuários temem violações de privacidade.
A EssilorLuxottica disse que faz parcerias “com autoridades competentes para impulsionar a inovação, proteger a privacidade e definir novos padrões do setor”.
Um porta-voz da Meta se recusou a comentar além de se referir à declaração da EssilorLuxottica.
Concorrência esquentando
Os óculos Ray-Ban Meta lideram o mercado de óculos com IA graças a uma parceria que une tecnologia e moda, segundo analistas e especialistas, uma lacuna que condenou o Google Glass há uma década.
De acordo com o Barclays, a EssilorLuxottica detém atualmente uma participação de 60% no mercado de óculos inteligentes.
“Em vez de tentar criar algo bacana, a Meta fez uma parceria com pessoas que sabem o que é bacana”, disse Ross Gerber, presidente-executivo da Gerber Kawasaki, empresa de gestão de patrimônio sediada na Califórnia, que detém ações da Meta.
Mas sua vantagem de pioneira pode desaparecer à medida que rivais lançam produtos melhores, disse Luca Solca, analista da Bernstein. Os óculos inteligentes também podem canibalizar óculos tradicionais, que representam cerca de um quarto da receita da EssilorLuxottica.
Vários gigantes da tecnologia pretendem avançar no setor.
Em novembro, a chinesa Alibaba lançou os óculos Quark com tecnologia de IA na China, onde os Ray-Ban Meta não são vendidos.
Enquanto isso, o mercado espera que a Apple revele seu próprio modelo de óculos inteligente no próximo ano e o lance em 2027, afirmou a Bloomberg News.
O Google está trabalhando com a Warby Parker e a casa de moda de luxo Kering para desenvolver sua própria versão do aparelho, anunciando na segunda-feira que espera lançar um primeiro produto em 2026. A Amazon também está explorando o mercado e a Xiaomi lançou um produto semelhante em junho.
Portfólio de marcas
A EssilorLuxottica, a maior fabricante de óculos do mundo, pode se apoiar em sua rede de 18 mil lojas e em marcas como Prada, Armani e Chanel.
“Um dos principais elementos de diferenciação para eles não é apenas sua capacidade de produzir, mas também sua capacidade de distribuir e sua capacidade de alavancar um portfólio de marcas”, disse Bassel Choughari, gerente de portfólio da Comgest, com sede em Paris, que detém ações da EssilorLuxottica.
“Esse é um elemento que não deve ser subestimado.”
O presidente-executivo da EssilorLuxottica, Francesco Milleri, que assumiu o comando da empresa em 2020, está direcionando o grupo para a tecnologia médica.
Os óculos inteligentes, fundamentais para essa estratégia, contribuíram com mais de quatro pontos percentuais para o crescimento de receita em nove meses da EssilorLuxottica, provocando um rali de 14% no valor da ação da companhia avaliada em 140 bilhões de euros, embora representem apenas 2% das vendas globais, estima o investidor CCLA.
A EssilorLuxottica está procurando aproveitar esse impulso. A empresa ampliou seu portfólio para a marca esportiva Oakley e manteve discussões exploratórias com a Prada.
Em setembro, uma nova versão do Ray-Ban Meta foi apresentado, com um visor incorporado em uma das lentes. O dispositivo pode ser operado por meio de uma pulseira que converte gestos das mãos em comandos.
Fonte: https://www.cnnbrasil.com.br
