O mercado financeiro dos Estados Unidos enfrentou um período de forte volatilidade em 2025, marcado principalmente pelas tarifas impostas por Donald Trump, que chegaram a provocar uma queda de 10% no índice S&P 500 em apenas dois dias após o anúncio em abril.
Segundo Marcos Praça, diretor de análise da Zero Markets Brasil, as tarifas foram utilizadas como uma arma e moeda de troca pelo governo americano, afetando diversos países em uma estratégia que buscava trazer benefícios econômicos para os Estados Unidos. “Não tem como eu começar, é impossível começar sem falar das tarifas que Donald Trump botou ali em abril e foi, sem dúvida, um dos maiores drivers do ano de 2025”, afirmou Praça.
Outro fator determinante para o mercado foi o avanço da inteligência artificial, que continuou impulsionando as ações de tecnologia. “A maior parte do S&P 500, a maior parte relacionada a essa alta do S&P 500 que nós tivemos em 2025, está relacionada a ações de tecnologia”, destacou o especialista. A NVIDIA chegou a ultrapassar os 5 trilhões de dólares em valor de mercado, tornando-se a empresa mais valiosa do mundo, o que acendeu receios sobre uma possível bolha no setor.
Mudanças nas políticas monetárias e valorização de metais
As mudanças na política monetária dos bancos centrais também influenciaram significativamente o mercado. O Federal Reserve (Fed) iniciou um ciclo de cortes nas taxas de juros, enquanto o Banco Central Europeu também reduziu suas taxas e o Banco do Japão interrompeu seu cenário de juros negativos. Essas decisões afetaram diretamente os investimentos globais e as expectativas para a economia americana.
A valorização dos metais preciosos foi outro ponto destacado por Praça. “A gente teve o ouro passando os 4 mil dólares a onça-troy, prata dobrando de valor, mais que dobrando de valor, e isso mostra uma forte busca por proteção”, explicou. Curiosamente, o Bitcoin não acompanhou o mesmo desempenho, indicando uma preferência dos investidores por ativos tangíveis como proteção contra os conflitos geopolíticos e a guerra tarifária.
Interrupção da cadeia de suprimentos
A imposição de tarifas também resultou em uma significativa interrupção da cadeia global de suprimentos. Grandes empresas como Apple e Nike, que produzem fora dos Estados Unidos, foram forçadas a repensar suas estratégias. Um exemplo notável foi quando a Apple enviou seis aviões carregados com aproximadamente 1,5 milhão de iPhones para os Estados Unidos antes da implementação das tarifas, numa tentativa de formar estoque e evitar repassar o aumento de preços aos consumidores.
“As empresas acabam priorizando, mudando as estratégias e priorizando resiliência. Porque simplesmente o risco é muito alto”, explicou Praça, destacando como as constantes mudanças nas políticas tarifárias (“bota tarifa, tira tarifa”) criaram um ambiente de incerteza para as empresas.
Perspectivas para 2026
Para 2026, Praça aponta alguns fatores que devem permanecer no radar dos investidores. O primeiro é a decisão da Suprema Corte americana sobre a legalidade das tarifas impostas por Trump. Se a decisão for contrária ao governo, não apenas as tarifas seriam invalidadas, como também haveria a necessidade de devolver cerca de 50% do valor arrecadado, que chegou a 200 bilhões de dólares.
Os conflitos geopolíticos também continuarão sendo uma preocupação, com tensões na Venezuela, Rússia, Ucrânia e Oriente Médio. “Os conflitos seguem no radar e piorando, essa é a verdade”, alertou o especialista.
Por fim, o mercado de inteligência artificial permanecerá sob escrutínio, com dúvidas sobre a sustentabilidade do ritmo acelerado de crescimento devido a limitações de eletricidade, espaço e armazenamento. “A partir do momento que começar a esfriar um pouco, vêm alguns reportes, alguns relatórios um pouco mais para baixo, a gente pode esperar aí talvez uma reprecificação dos ativos de risco”, concluiu Praça.
Fonte: https://www.cnnbrasil.com.br
